sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Janeiro Roxo: detecção precoce ainda é desafio no combate à hanseníase

Dormência no pé e manchas avermelhadas em uma das pernas. Esses foram os sintomas que levaram o comerciante Jorge Mesquita a se preocupar se estaria com hanseníase. Ele já conhecia a doença por ter visto de perto a longa agonia da avó, que perdeu uma das pernas por conta das lesões e acabou morrendo em decorrência das complicações da diabetes. No entanto, se não fosse a insistência da esposa e da mãe, ele não teria procurado o serviço médico. “Depois que passei a não sentir a parte de trás da perna, me assustei e segui o conselho delas, de procurar um médico”, disse.

Morador de Itapajé, na Região Norte do Estado, ele é acompanhado, duas vezes por mês, no Centro de Dermatologia Dona Libânia, equipamento da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), referência no Ceará para doenças dermatológicas. O caso de Jorge é tratado em Fortaleza por conta da complexidade, mas, de maneira geral, são os Postos de Saúde que realizam o diagnóstico e tratamento da doença, de acordo com a diretora técnica da unidade de Saúde, Araci Pontes.

A hanseníase é uma doença contagiosa causada pela bactéria Mycobacterium leprae. “Os sintomas iniciais são manchas avermelhadas, acastanhadas ou mais claras que a pele, sem sensibilidade. Em uma fase mais avançada da doença, podem ocorrer deformações irreversíveis e até perda de membros”, destaca. O dia 26 de janeiro é o Dia Mundial Contra a Hanseníase e por conta da data, o mês ganhou a cor roxa para alertar a sociedade sobre a doença, que possui tratamento gratuito por meio do Sistema Único de Saúde (SUS).

Números

Apesar dos esforços para combater a hanseníase, o Ceará ocupa a sexta posição entre os estados que mais registram casos da doença. Já o Brasil é o segundo país no mundo neste ranking. De acordo com o boletim epidemiológico mais recente, divulgado no dia 12 de janeiro pela Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), entre 2010 e 2022, foram notificados 22.248 casos. Destes, 1.115 eram casos em menores de 15 anos, o que sugere a presença endêmica da doença.

O Centro de Dermatologia Dona Libânia foi responsável pelo diagnóstico de 25% das notificações no Ceará em 2022. Dos casos registrados neste ano, 11,3% dos pacientes apresentavam Grau de Incapacidade Física 2, que se refere a alterações motoras em olhos, mãos, ou pés ou deformidades visíveis irreversíveis.

Para evitar esse tipo de sequela, é importante a detecção precoce, aponta a dermatologista Araci Pontes. “A hanseníase tem cura e, desde a década de 1980, os antibióticos são altamente eficazes. Por isso, o paciente deve iniciar o tratamento o quanto antes, para interromper a transmissão e não ter sequelas. A medicação já interrompe a transmissão na primeira semana”, diz.

Os Postos de Saúde são as portas de entrada para o diagnóstico dos casos de hanseníase. “Nas Unidades de Atenção Primária é realizado o tratamento por meio da poliquimioterapia (PQT) com dose supervisionada mensal. Além disso, são avaliados os contatos domiciliares das pessoas diagnosticadas com a doença. A Atenção Primária à Saúde é parte elementar no manejo clínico da hanseníase”, destaca a assessora técnica da . Coordenadoria de Atenção Primária à Saúde (Coaps), Ercelina Cavalcante.

O período de tratamento pode variar de seis meses a um ano, com antibióticos de uso diário, fornecidos pelos postos de saúde. “O diagnóstico, feito na atenção básica, é eminentemente clínico, baseado na observação. O teste principal é o de sensibilidade térmica, em que comparamos a sensibilidade da pele sadia e da pele com lesão”, explica.

O estigma social em torno da doença ainda é muito forte. No entanto, o antídoto para o preconceito é a informação. “Com a descoberta do tratamento, até o nome da doença, que era lepra, mudou para hanseníase. Hoje, é totalmente curável. E o paciente pode conviver normalmente com sua família, realizar suas atividades, trabalhar. Por isso, se você notou algum desses sinais iniciais, como dormência na pele ou manchas, não tenha medo do diagnóstico. Procure uma unidade de saúde o quanto antes. Rapidamente, você vai estar curado e sem nenhuma sequela”, garante.

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