terça-feira, 26 de novembro de 2024

Gastronomia Social como ferramenta para geração de renda e inserção no mercado de trabalho

Oportunidades de emprego e mobilidade social são apenas alguns dos resultados de ações baseadas em gastronomia social. Por meio de cursos profissionalizantes, além de ressaltar e promover a cultura alimentar com os modos de cozinhar e comer dos cearenses, a Escola de Gastronomia Social Ivens Dias Branco (EGSIDB) acolhe jovens e adultos nas formações em Confeitaria, Panificação e Cozinha Básica.

Estruturado em módulos, cada curso totaliza uma carga horária total de 260 horas e os participantes são formados para atuar nas respectivas áreas. Até o dia 14 de maio, a Escola recebe inscrições para o processo seletivo das novas turmas. São 140 vagas disponíveis para pessoas em situação de vulnerabilidade social ou inseridas em ações afirmativas.

Elidiane de Souza, 36 anos, fez pão pela primeira vez no curso profissionalizante de Panificação da Escola de Gastronomia Social. Quando morava no bairro Serviluz, iniciou as aulas, em 2019, desempregada e sem perspectivas. Na última semana do curso, a conclusão do ciclo formativo veio acompanhada de um novo emprego como auxiliar de panificação. “A minha expectativa era conseguir um emprego e deu certo, além de ter me ajudado também na minha vida pessoal, que era muito conturbada e através do curso tive muitas melhoras”, conta. Para Elidiane, a formação em panificação trouxe também novas perspectivas.

“Aprendi sobre fichas técnicas, aprofundei os conhecimentos de cozinha, mas também abriu minha mente para muita coisa, como questão da higiene, da postura, o modo de você falar com as pessoas e tudo isso porque o curso ensina muita coisa para a gente. Muito bom mesmo”, afirma a cozinheira, que já passou por cozinhas veganas, confeitarias e agora trabalha em uma cafeteria, onde também já tem aprendido novas técnicas, como a de fazer gelato. “Meus próximos passos nesse setor é aprender cada dia mais para que eu possa, futuramente, abrir meu negócio para ensinar também pessoas que precisam, que necessitam de ajuda que nem eu precisei”, completa a cozinheira.

Quem apostou no empreendedorismo foi a doceira Cosma Barreto, 40 anos, moradora do bairro Jardim das Oliveiras. Aluna do curso profissionalizante de Confeitaria, em 2022, Cosma já tinha trabalhado com doces e também como auxiliar de confeitaria. “Meu primeiro contato com a gastronomia veio com minha mãe, que fazia doces para vender, e fazer o curso na Escola foi o contato com a gastronomia mais intenso que tive. Pude aprender mais conteúdo e me qualificar melhor”, destaca, lembrando que foi um período desafiador porque precisava de um apoio para ficar com os filhos pequenos.

O aprendizado de técnicas de confeitaria e precificação colaboram com a rotina atual de Cosma, que possui um carrinho de doces e trabalha com encomendas. “Eu vejo a qualidade do que faço hoje e me valorizo mais como profissional. Nunca é tarde para aprender. A minha trajetória ainda está em formação, mas sei que é o começo de uma grande história”, afirma Cosma, que pretende abrir a própria confeitaria.

Já Helaine Cruz, 31 anos, tinha seu próprio negócio antes de fazer o curso profissionalizante de Panificação na Escola, em 2022. Para realizar o curso, Helaine chegou a reduzir o horário de funcionamento de sua loja. “O curso contribuiu com minha rede de relacionamentos e consegui incluir mais variedade no meu cardápio”, conta. Helaine, destacando os desafios de conduzir o próprio negócio. “Empreender não é o mesmo que saber fazer pão. Tem sido difícil pela deficiência de conhecimento na área da gestão e, com muita certeza, meus próximos passos serão buscar conhecimentos na área da administração e gestão de negócios, completa.

A gastronomia social também proporciona transição de carreira. Dália Ribeiro, 23 anos, foi aluna do curso profissionalizante de Cozinha Básica em 2018. Antes, trabalhava com vendas, mas sempre gostou de cozinhar, em casa, para familiares. “Lembro que na inscrição estava muito nervosa pra saber se ia passar, pois queria muito me profissionalizar na área e trabalhar com aquilo que eu realmente gosto de fazer”, conta, lembrando que tinha acabado de sair do emprego como vendedora e teve dificuldade até com o valor para o transporte, mas teve o apoio dos pais.

Para Dália, o curso foi o primeiro contato com a cozinha quente, trazendo muitas informações, curiosidade para a pesquisa, técnicas, vocabulário e sua primeira oportunidade de ser encaminhada para uma vaga de trabalho na área. “É sempre difícil encontrar um emprego nessa área sem ter alguma experiência, então a Escola me trouxe formação e me encaminhou para um período de teste, consegui o emprego, aperfeiçoei minhas técnicas, continuei fazendo os cursos básicos, já atuei como chef de cozinha e hoje sou supervisora de cozinha”, ressalta Dália, que está trabalhando e estudando em busca do objetivo de se tornar chef executiva.

Anderson Mesquita, 34 anos, também estava desempregado e fazendo serviços temporários como técnico de informática quando, em 2019, ingressou na Escola como aluno do curso de Cozinha Básica. Anderson também gostava de cozinhar e viu a oportunidade de atuar na área. Em busca de novos conhecimentos, o curso foi o primeiro contato profissional com a gastronomia, ampliando também seu repertório em relação à cultura alimentar.

“Aprendi tudo nessa escola, coisas que vou levar para sempre, tanto técnicas, como teorias, melhorou minha convivência com as pessoas e me amadureceu de diversas formas estar na escola”, conta. Ao concluir a formação, Anderson trabalhou como freelancer em eventos e restaurantes até entrar como auxiliar de cozinha em um restaurante no bairro Benfica. “A formação me impactou e abriu meus olhos para o mundo gastronômico. Eu me destaquei, ganhei a confiança dos meus chefes e fui promovido”, afirma Anderson que agora é gerente do estabelecimento.

Sobre a Escola

Equipamento da Secretaria da Cultura do Ceará (Secult), a Escola de Gastronomia Social Ivens Dias Branco (EGSIDB) é gerida pelo Instituto Dragão do Mar (IDM) e faz parte do Cultura em Rede, programa da Secult Ceará que integra ações e políticas culturais na sua rede de equipamentos públicos. O centro de formação, inaugurado em 2018 no bairro Cais do Porto (Fortaleza), é um espaço formativo que associa ensino, pesquisa e compromisso social, reconhecendo a riqueza da forma de se alimentar do cearense, os diversos tipos de saberes, a cadeia de produção, promovendo a inovação de produtos, incentivando o empreendedorismo social, qualificando para o mercado de trabalho e contribuindo para o combate à fome por meio de cursos gratuitos de longa e curta duração, que acontecem na sede da Escola e no interior do Ceará.

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