sábado, 23 de novembro de 2024

Festival Unaé investe em acessibilidade para viabilizar uma programação aberta a todas as pessoas no Cariri

Como transpassar a barreira para as pessoas surdas aproveitarem um show musical ou um espetáculo de teatro? Como garantir que pessoas cegas ou com baixa visão possam acompanhar uma exposição? E como criar espaço para pessoas com deficiência (PCD) fruirem sua arte como realizadores e não apenas espectadores?

Dos intérpretes de libras e assistentes de suporte até um setor inteiro dedicado a pensar a acessibilidade, o “Festival Unaé – Sonhar o Cariri?” marca espaço na missão de levar arte e cultura para todos os públicos: pelo menos 90% da programação conta com soluções acessíveis. O festival acontece entre os dias 26 e 29 de outubro, no Centro Cultural do Cariri Sérvulo Esmeraldo, equipamento da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará, gerido em parceria com o Instituto Mirante.

Diretamente do Palco Mestre Azul, os multiartistas Leo Castilho e Erika Mota vão traduzir em libras e realizar a interpretação musical dos shows de Liniker, Luedji Luna, Cátia de França e Don L.

Surdo desde os oito meses de idade, Leo Castilho traduz músicas (em libras e na dança) para quem não pode ouvi-las. Ele também produz festas para pessoas surdas, com músicas altas e com graves. No ano passado, roubou a cena do Rock in Rio pelo trabalho que desenvolve há anos pelo direito das pessoas surdas ao acesso à cultura e à arte, sendo ainda ativista e articulador da proposta para inclusão de políticas para cultura surda na III Conferência Nacional de Cultura.

Já Erika Mota mergulhou no universo das libras como voluntária e abraçou a profissão, que exerce há mais de 10 anos. Parceira nos projetos com Leo Castilho, ambos desenvolveram ações como Slam do Corpo, Sarau do Corpo e também formações para criação de sinais para espaços culturais.

Além dos shows musicais com tradutores de libras e performances, o festival contará com assistentes para dar suporte ao público com deficiência, intérpretes em quase toda a programação e visitas guiadas acessíveis às exposições. Uma novidade é o camarote de acessibilidade, um espaço com rampa, cadeiras, banheiro, assistentes e guarda corpo para dar segurança a pessoas com deficiência.

“O festival não só celebra a arte e a cultura do Cariri. Não é só difusão e fruição, ele também é um espaço de inclusão e implementação de políticas públicas. Então trazer a acessibilidade como um ponto central para o festival é também um fortalecimento da política do direito das pessoas com deficiência”, explica Jéssika Kariri, coordenadora de acessibilidade do Festival Unaé.

Totens com a programação diária do festival em libras estarão distribuídos no centro cultural, além da audiodescrição dos espaços antes do início de cada atividade. O plano de acessibilidade do Festival Unaé foi construído para promover o exercício dos direitos e das liberdades das pessoas com deficiência, a partir da Lei Brasileira de Inclusão (13.146/2015). Também está amparado na Lei de Libras, oficializada como segundo idioma no Brasil desde 2002.

“O Centro Cultural do Cariri tem como premissa garantir o pleno exercício aos direitos e a cidadania cultural de todas as pessoas, que envolve o acesso, fruição e a produção da diversidade de expressões, entre elas a cultura surda, que vai além da acessibilidade, possibilita a formação, desenvolvimento e expressão desse segmento”, afirma o diretor do Festival Unaé, Américo Córdula.

Jéssika Kariri explica que a acessibilidade é um conjunto de estratégias que garante que as pessoas possam exercer a sua humanidade com dignidade, autonomia e independência. “Quando falamos do Festival Unaé, estamos falando de sonhar, celebrar e construir esse Cariri, que acreditamos que está para além do sonho, mas é um sonho político, um sonho real e um sonho de ação”, destaca.

Unaé, o sonho e a celebração de uma terra ancestral

O Festival Unaé é um momento para celebrar e fruir toda a efervescência cultural de uma terra ancestral, que respira história, tradição e contemporaneidade no sul do Ceará. Com 29 municípios, localizado a 400 quilômetros da capital Fortaleza, a região do Cariri é uma terra fértil que reinventa a vida com narrativas populares que atravessam a memória, a fé, a cultura e a ciência.

É terra de mestres de cultura e artistas da música, da literatura de cordel, da oralidade, da dança, do grafite, do teatro, do slam e de tantas outras linguagens que constroem diariamente a identidade de um povo que olha para o passado enquanto sonha com o futuro.

“O festival abrange várias atrações nacionais e regionais, com shows e apresentações de muita qualidade e impacto, para marcar o início de trocas e difusão da produção cearense e intercâmbio cultural e se inserir no roteiro das apresentações nacionais de grandes nomes da região e de outros estados”, destaca a diretora do Centro Cultural do Cariri, Rosely Nakagawa.

A programação do festival está aberta a todos os públicos e está sujeita a lotação. A entrada é solidária, podendo ser realizada a doação de um quilo de alimento. Não haverá troca de ingressos.

SOBRE O CENTRO CULTURAL DO CARIRI

Com uma infraestrutura de mais de 50 mil m², o Centro Cultural do Cariri funciona em um imponente edifício em formato de H, projetado por arquitetos alemães na entrada da cidade do Crato, um município com 131 mil habitantes. De palcos, residências artísticas, quadras e pista de skate a um amplo bosque verde, é um espaço rico para promover lazer, cultura e ciência, em contato constante com a natureza que o rodeia na Chapada do Araripe.

Toda a estrutura do equipamento vem sendo inaugurada gradualmente, desde abril de 2022, e o Festival Unaé representa um novo momento com mais espaços em funcionamento, como as três galerias de arte. Um teatro com 600 lugares e um planetário ainda serão abertos pelo equipamento.

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