Se a Chapada do Araripe falasse, certamente, ela pediria socorro para estancar o sangramento crescente, decorrido de ferimentos que lhe causam, diariamente. No mesmo grito de desespero, que atinge sua fauna e flora, ela pediria clemência aos que torturam sua irmã, a Amazônia.
Com uma voz temerosa, a nossa Chapada falaria à especulação imobiliária sobre as construções sustentáveis, sobre a possibilidade de crescer sem reduzir as áreas verdes, sem jogar entulho em sua encosta, sem invadir o habitat natural do nosso estimado e belo Soldadinho do Araripe.
Pediria uma reunião com os empresários do agronegócio no Cariri para, juntos, discutirem as oportunidades da agroecologia. Na boa, educadamente, reforçaria com os demais produtores de alimentos e criadores de animais do campo, a importância das técnicas que dispensam o uso de agrotóxicos, que mantêm os lençóis freáticos (nossa fonte de água) livres de veneno, que ajudam a assegurar uma vida mais longa e saudável.
Nossa Chapada ainda pediria para que essa reunião fosse transmitida ao vivo pelo Facebook e Instagram com o objetivo de convencer mais pessoas, do Nordeste e de outras regiões, a defenderem sua nobre causa, que impacta a vida de milhares, que visa salvar nossas matas da extinção.

Caso Deus houvesse lhe dado além do dom de falar, a habilidade de andar, a Chapada do Araripe pegaria um voo de Juazeiro do Norte para São Paulo e depois para Manaus, onde lutaria contra as queimadas, desta semana, na Amazônia. Fogo que destrói vidas, que apaga memórias, que diminui o oxigênio no ar, que faz dia virar noite.
A Chapada repudiaria o contrabando de seus fósseis para o mundo, se ela falasse. Faria várias ligações, gravaria muitos áudios no WhatsApp, pedindo para que tragam de volta os fósseis contidos em Pedras Cariri espalhadas pelo mundo.
Se a Chapada do Araripe falasse, indignada, chamaria até a polícia, caso visse um homem jogando um copo descartável na vala do esgoto da Rua Pio X, logo após seu cafezinho da manhã (vi isso hoje). Perguntaria às prefeituras caririenses como andam os projetos para erradicação dos lixões e construção dos aterros sanitários em nossas cidades, principalmente Juazeiro do Norte, a maior delas.
Se a Chapada do Araripe falasse, pediria para que amemos ela e toda a natureza que se coloque à frente do nosso nariz. Clamaria para não deixarmos a Amazônia queimar, para ensinarmos nossos filhos a valorizar e preservar a vida nas matas brasileiras, para questionarmos os candidatos que elegemos sobre as políticas ambientais.
Se a Chapada do Araripe falasse, diria para começarmos a acreditar nos números relacionados ao aquecimento Global, para não perdermos tempo com o tio ou primo da família, que isso chama de baboseira. Para doar um livro de geografia aos conhecidos que faltaram à aula de Geografia e acreditam que a terra seja plana.