A Cultura permanece sob ataque. Mesmo com a derrota nas urnas da macronarrativa anticultural travestida de moralismos, a semente da comunicação violenta contra as artes, a ciência e liberdade encontrou terreno fértil para brotar em vários solos, inclusive em terrenos institucionalizados e varandas com ampla visibilidade social da mídia formal. Esse cenário aponta para uma luta ainda duradoura para garantir os espaços, o fomento, a dignidade e o respeito ao patrimônio histórico, artístico e cultural, construído coletivamente pela nossa gente brasileira.
É justamente em razão disso que se justifica a necessidade de, no 23º ano do século XXI, serem escritas essas linhas em defesa de um bem cultural registrado no Livro das Celebrações do IPHAN como patrimônio imaterial da cultura brasileira, atacado gratuitamente pelo senhor Demitri Túlio em crônica publicada pelo jornal O Povo no último domingo.
A pretexto de um discurso ecológico, embora antagonicamente repleto de violência simbólica e com a voracidade devastadora de serras-elétricas e dragões de ferro, o escriba ataca a fé, a tradição, a história e a identidade cultural do povo brasileiro e ainda, de quebra, as instituições que respaldam o ritual com muita responsabilidade, fiscalizando e cobrando os protocolos acordados para a realização do corte do pau.
Começando pelo dossiê técnico do IPHAN que levou ao registro do bem imaterial, que trata da questão ambiental como elemento obrigatório e essencial da política de salvaguarda da patrimonialização. Também em razão disso a retirada anual de uma árvore para ser o mastro do Pau da Bandeira de Santo Antônio é precedida de autorização ambiental da Autarquia Municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade Barbalha – AMASBAR, nos termos da rigorosa legislação ambiental brasileira, bem como guiada por um TAC com o Ministério Público que garante o replantio de no mínimo 20 mudas a cada árvore retirada, envolvendo escolas, carregadores e comunidade em uma grande ação de educação ambiental, respeito e preservação da FLONA Araripe, tudo isso acompanhado de perto pelo ICMBio.
O discurso de ataque ao bem cultural brasileiro, focado exclusivamente na devastação do sentimento de pertencimento dos devotos do Santo Casamenteiro, não ponderou nada disso, talvez por desconhecer, o que é preocupante dada a irresponsabilidade do pronunciamento público sobre o que não se conhece, utilizando um lugar privilegiado de divulgação de opiniões e formação de opinião. Mas pode ter havido também uma mera omissão dolosa dessas informações aos leitores, o que é bem grave, já que macula a credibilidade do próprio meio onde foi publicada.
De mais a mais, a Barbalha, Capital Estadual dos Festejos de Santo Antônio (Lei n. 15.271/12), resistindo a mais um ataque a sua fé, cultura e tradição, se prepara para mais uma celebração do patrimônio imaterial da cultura brasileira que é o Carregamento do Pau da Bandeira de Santo Antônio, dia 04 de junho, com missa, procissão, chá casamenteiro, maneiro pau, pau de fita, Mateus, reisado, bandas cabaçais, penitentes, dança de São Gonçalo, capoeira, quadrilhas juninas e muito forró abrindo os festejos juninos do Nordeste.
Será uma grande honra para a nossa cidade receber toda a gente irmã cearense e brasileira para celebrarmos juntos a mossa cultura, a nossa fé e a rigorosíssima proteção a nossa casa natural, que é o sopé da Chapada do Araripe, a primeira Floresta Nacional do Brasil. Venha conhecer as nossas áreas de proteção ambiental, geossítios, geoparques, trilas ecológicas, os nossos balneários de águas termais e medicinais, o Complexo Ambiental do Mirante do Caldas e a hospitalidade da nossa gente.
Viva ao patrimônio cultural brasileiro!
Viva a Festa do carregamento do Pau da Bandeira de Santo Antônio de Barbalha!
Por: Isaac Luna: advogado, cientista político, professor universitário e secretário de Cultura e Turismo de Barbalha