sexta-feira, 27 de dezembro de 2024

Centro de Referência em Saúde Indígena será montado em terra Yanomami

O governo federal planeja inaugurar, até o fim de abril, um Centro de Referência em Saúde Indígena no território Yanomami, em Roraima, com capacidade para tratar casos mais graves de desnutrição e malária. Atualmente, esses pacientes são removidos de avião para a capital Boa Vista. A unidade está sendo instalada no polo base de Surucucu, no extremo Oeste da reserva, próximo à fronteira com a Venezuela.

O local é um dos principais pontos de acesso ao território, mas de onde só se chega por via aérea. A pista de pouso e decolagens é a única asfaltada na região e tem capacidade de receber aeronaves de maior porte, como aviões de carga. É para lá que são levados indígenas de aldeias mais isoladas, que depois, dependendo da gravidade, são transferidos para a capital do estado.

“A expectativa é que a unidade possa se tornar um serviço permanente, mesmo após o fim da Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional [Espin]. A previsão é que o centro esteja concluído até o fim de abril”, informou o Ministério da Saúde, em nota.

Desde a eclosão da crise humanitária dos Yanomami, os atendimentos emergenciais foram reforçados por meio de profissionais da Força Nacional do Sistema Único de Saúde (SUS) em diferentes polos da Terra Indígena, em apoio às equipes locais do Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami (DSEI-Y). Segundo a pasta, de meados de janeiro até agora já foram enviados cerca de 100 profissionais de saúde e realizados mais de 8,4 mil atendimentos médicos aos indígenas encontrados situação de desassistência, tanto no território quanto em unidades de Boa Vista.

A expectativa por um atendimento de maior complexidade dentro da Terra Indígena Yanomami é muito grande entre os principais beneficiados com a medida. “A gente não sabe quando, que dia vão entregar esse hospital de campanha para fazer atendimentos aos indígenas que ficam na região de Surucucu, a gente precisa urgente desse hospital, porque ainda há grande número de remoção para Boa Vista. Então, precisamos de apoio e que termine mais rápido [possível] o hospital de campanha dentro da Terra Indígena Yanomami”, cobrou o líder indígena Júnior Hekurari Yanomami, em entrevista à TV Brasil.

Somente em janeiro, de acordo com o Centro de Operações de Emergências em Saúde Pública (COE), foram efetuadas 223 remoções, sendo 111 deslocamentos dentro do território – entre aldeias mais distantes e os polos base – e 112 para Boa Vista. Em diversos casos, por conta das restrições para voos noturnos e com tempo nublado, indígenas em situação mais grave não resistiram. Outro polo base que pode receber uma unidade de atendimento com maior capacidade médica é o de Auaris, na parte mais ao norte do território. No entanto, não há previsão para a montagem desse centro.

Presença de garimpeiros

Os indígenas também seguem denunciando a entrada de garimpeiros na área Yanomami. Segundo lideranças locais, o acesso tem sido feito por meio de helicópteros, de aviões, principalmente nas comunidades Homoxi, Xitei, Parima e algumas outras aldeias onde não estaria acontecendo nenhuma operação da Polícia Federal (PF) e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

“Nossa preocupação é muito grande, né, porque esses garimpeiros estão colocando, prejudicando os rios e as comunidades”, afirmou Júnior Hekurari Yanomami.

Na última terça-feira (14), a PF divulgou o resultado do primeiro mês de operação contra garimpeiros ilegais na Terra Indígena Yanomami. No período, foram apreendidos ou inutilizados 84 balsas ou embarcações, duas aeronaves, 172 geradores de energia, 11,4 mil litros de combustível, além de maquinários para extração de minério, motosserras, mercúrio e uma tonelada de mantimentos dos garimpeiros ilegais. Também foram destruídos 200 acampamentos, com armas e munições, e apreendidas 27 toneladas do minério cassiterita.

Os dados contabilizados reúnem informações das ações conjuntas do Ibama, PF, da Força Nacional de Segurança Pública, da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai).

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