Em meados de setembro, Paula [nome fictício], 41, começou a sentir coceira nas coxas e na região íntima, o que a levou a pensar que, talvez, estivesse com alguma alergia. “Quando apareceram essas manchinhas na palma da minha mão, eu me lembrei do que um médico havia me dito: ‘Quando aparecer bolha na palma da mão, corra para o hospital, porque é grave’”, relata. Além desses sintomas, Paula também sentia febre e dor no corpo, o que a levou a buscar a Emergência do Hospital São José (HSJ), unidade da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) referência no tratamento de doenças infecciosas.
Paula foi diagnosticada com neurossífilis, complicação da sífilis que não foi tratada adequadamente e que afeta o sistema nervoso central, podendo apresentar sintomas como dor de cabeça, visão turva e tontura. “Fiz o teste e o médico me receitou essa medicação. Estou na terceira dose, e os sintomas melhoraram”, afirma a paciente. Esta é a segunda infecção enfrentada por Paula, que recebeu o primeiro diagnóstico da doença aos 28 anos.
O diagnóstico e tratamento da sífilis devem ser feitos na atenção primária, em qualquer posto de saúde. Somente nos casos em que seja identificada alguma complicação, como no caso de Paula, o paciente é encaminhado para uma unidade de alta complexidade. A infectologista do HSJ, Ruth Araújo, ressalta que a doença não gera imunidade, o que significa que a reinfecção pode acontecer sempre que o indivíduo se expor a situações de risco.
“A nossa grande sorte é que o Treponema pallidum, bactéria que causa a sífilis, não criou resistência à penicilina — o antibiótico mais antigo que nós temos. O tratamento pode ser feito tanto com a benzatina (benzetacil), como com
A sífilis é uma infecção sexualmen a cristalina, que usamos para tratar a neurossífilis e outros quadros mais graves. Independentemente do estágio, a doença tem cura”, assegura a médica.
Transmissão e sintomaste transmissível (IST), ou seja, é transmitida, principalmente, por relação sexual sem preservativo. O contágio também pode acontecer via transmissão vertical, de mãe para filho, no momento do parto e, mais raramente, caso haja lesões ativas, pelo toque ou pelo beijo.
Segundo Ruth Araújo, as lesões nas palmas das mãos representam sinais de alerta para a doença. “Às vezes, a pessoa acha que está com alergia, mas, quando você olha para as palmas das mãos e dos pés, existe essa lesão e você precisa descartar a possibilidade de outras doenças. Alguns autores chamam a sífilis de ‘a grande imitadora’, porque ela pode se apresentar na forma de vesículas, nódulos, caroços ou manchas, simulando uma alergia e várias outras condições”, destaca.
A infecção costuma ser classificada em três estágios, que se diferenciam conforme a apresentação dos sintomas. “A sífilis primária é aquela mais precoce, que dá lesões genitais indolores e, comumente, passa despercebida; a sífilis secundária pode dar lesões mais generalizadas nas palmas das mãos, gânglios aumentados, febre e, geralmente, aparecem até um ano após o contágio; e a terciária é a doença com mais de 20 ou 30 anos, que nunca foi tratada e pode apresentar manifestações neurológicas e cardiológicas, geralmente mais graves”, explica a infectologista.
Sífilis congênita: a importância do pré-natal para prevenir a doença
Outra face da sífilis que preocupa médicos e especialistas em saúde pública é a sífilis congênita, quando a doença é transmitida da mãe para o feto ou para o recém-nascido, durante a gestação ou no momento do parto. A articuladora do Grupo de Trabalho de IST/HIV/aids e hepatites virais da Sesa, Vilani Matos, destaca a importância do acompanhamento pré-natal para evitar o desfecho da sífilis congênita, que gera internações e possibilidade de aborto ou morte neonatal — óbito que ocorre antes de o bebê completar 28 dias de vida.
“A partir do momento em que a gestante é diagnosticada com sífilis na unidade básica de saúde, ela deve ter um acompanhamento pré-natal com exame de VDRL [teste usado para diagnóstico e acompanhamento da doença]. Através desse exame, conseguimos acompanhar se houve reinfecção durante o período gestacional e podemos avaliar se há a necessidade de retratamento da gestante”, enfatiza.
A sífilis é uma doença tratável, curável e prevenível, mas, para alcançar a cura, é fundamental que não só a pessoa diagnosticada seja adequadamente tratada, mas também todas as suas parcerias sexuais, para que não ocorra a reinfecção da doença. Além disso, a infectologista Ruth Araújo acrescenta que o diagnóstico precoce, em combinação com o uso do preservativo nas relações sexuais, são as principais formas de prevenção contra a sífilis. “Quando você faz o teste, você se trata e quebra a cadeia de transmissão”, salienta.
Dia Nacional de Combate à Sífilis e à Sífilis Congênita
Nos terceiros sábados de outubro de cada ano celebra-se o Dia Nacional de Combate à Sífilis e à Sífilis Congênita. A Lei 13.430/2017 que institui o dia comemorativo foi aprovada pela Câmara dos Deputados em 2015 e pelo Senado Federal em 2017. O objetivo é enfatizar a importância do diagnóstico e do tratamento adequado da sífilis e especialmente na gestante durante o pré-natal.