De há muito se fala da possível relação entre futebol e política, principalmente após o uso simbólico da seleção tricampeã de 1970 como propaganda dos anos de chumbo do governo do general Emílio Garrastazu Médici. A nossa conversa aqui não será sobre essa coisa de se é possível ou não manipular a opinião pública através do futebol para obter ganhos políticos, mas, de maneira muito menos pretensiosa, apenas avaliar se, observando o mundo da bola podemos extrair alguma lição para o mundo do voto, tendo por mote o resultado da Copa do Brasil 2023.
Pois bem, até as pedras sabem que o clube com o elenco mais poderoso do país é o Flamengo, com diversas estrelas e salários astronômicos. É também o time carioca o dono da maior torcida do Brasil, campeão de público nos estádios e recordista na audiência dos jogos transmitidos pela TV. Ainda assim, com toda a conjuntura favorável, os cariocas da Gávea não venceram um campeonato sequer esse ano, sendo que último perdido tem um simbolismo mais evidente, pois envolveu o seu ex-treinador, demitido após a conquista de dois títulos importantes.
O time campeão, apesar de também pertencer a prateleira de cima dos grandes do futebol brasileiro, tem um elenco muito mais modesto, salários menores e menos da metade da torcida do rival. Não havia, no começo da competição nacional, apostadores dispostos a colocar as suas fichas nos são-paulinos, mas são eles, objetivamente, e com méritos, os campeões.
O que se viu ao final do jogo foi algo absolutamente espantoso: o comandante do Flamengo saiu de cena e os atletas derrotados foram buscar amparo no ombro do ex-líder, agora campeão pelo rival. Foi o treinador brasileiro que ficou na ponta do corredor cumprimentando os atletas flamenguistas na entrega da medalha de 2º lugar, enquanto o estrangeiro abandonou o seu elenco e sumiu da paisagem.
E o que isso tem a ver com a política?
Muita coisa: assim como no futebol, o sucesso na política depende de planejamento, estratégia, liderança, motivação e sentimento de pertencimento. O Flamengo tem uma grande equipe, mas não conseguiu, por erro de planejamento, de estratégia e de liderança, transformar isso em um grande time. A escolha por um modelo de planejamento impositivo, com uma diretoria centralizadora e um o técnico ditando ordens e cobrando do elenco a fiel execução, produziu estrelas que não brilharam e jogadores que não jogaram. O elenco é forte, mas, desmotivado, tornou-se fraco.
O São Paulo traçou caminho inverso. Tendo também uma grande equipe, buscou, através do trabalho coletivo sob a liderança em campo de um treinador especialista em relacionamento e motivação, transformar o seu elenco em um time com espírito colaborativo, atribuindo a todos e a cada um o sentimento de pertencimento ao projeto, à meta de ser campeão. O planejamento foi cumprido observando a estratégia definida, com liderança ao invés de comando e o resultado, improvável lá no início, veio.
Ao fim e ao cabo, fica a lição que, no futebol e na política:
- Apesar de extremamente importante e muitas vezes determinante, o dinheiro não garante a vitória; 2. Equipes desmotivadas não se transformam em times; 3. A liderança é mais eficiente do que o comando; 4. Sentimento e emoção importam; 5. Nem sempre o favorito vence.
A pré-temporada do grande campeonato eleitoral de 2024 já começou, cabe justamente nesse momento aos grupos e candidatos que desejam o sucesso nas urnas planejar e buscar as melhores estratégias para transformar as suas equipes em times, motivar pela liderança o seu elenco e a sua torcida e entrarem em campo pra, observando e cumprindo as regras do jogo, ganhar e levar. Na política, assim como no futebol, só a vitória interessa.
*Isaac Luna é advogado, cientista político, consultor e professor universitário