O choque séptico, anteriormente chamado de infecção generalizada, é causado por bactérias que se espalham facilmente pelos órgãos do corpo humano. Se não identificado e tratado rapidamente, o problema pode levar a óbito. Para evitar essa situação, unidades vinculadas à Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) geridas pelo Instituto de Saúde e Gestão Hospitalar (ISGH) desenvolveram o Protocolo Sepse. A estratégia busca treinar os profissionais para identificar e notificar casos suspeitos, otimizando a assistência.
O assunto repercutiu em todo o Brasil neste fim de semana após a cantora Preta Gil, filha do também artista Gilberto Gil, ter anunciado o diagnóstico de choque séptico, adquirido por meio de um cateter instalado em seu corpo. Ela está em tratamento contra o câncer de intestino.
Conforme dados do Instituto Latino Americano de Sepse (Ilas), 134.532 pacientes no País foram acometidos por sepse de 2005 a 2022.
Hospitais regionais
Érica Rodrigues, enfermeira do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar (SCIH) do Hospital Regional do Vale do Jaguaribe (HRVJ), destaca o gerenciamento da abertura do Protocolo Sepse no equipamento.
A medida qualifica o monitoramento de indicadores que norteiam as tomadas de decisão pelas equipes assistenciais, de laboratório, do Núcleo de Atendimento ao Cliente (NAC), da Engenharia Clínica e da Farmácia. “Essas respostas são fundamentais para prevenir a mortalidade e a letalidade do paciente, desde que sejam feitas de forma correta e no tempo oportuno”, afirma.
No Hospital Regional Norte (HRN), em Sobral, a Comissão Técnica de Gerenciamento da Sepse promove periodicamente discussões e treinamentos para atualização da identificação e da condução assertiva dos casos. Dentro do Protocolo, o reconhecimento de sinais de alerta pode ser feito pelos profissionais médicos e de Enfermagem.
Quando há a sinalização por parte de enfermeiros(as), o(a) médico(a) avalia a inclusão do paciente na estratégia, com a realização de exames laboratoriais específicos como lactato e hemocultura, administração de antimicrobiano, além da prescrição e a infusão de reposição volêmica e de vasopressores – se necessário, em até 60 minutos após o início do Protocolo.
Segundo a coordenadora da Comissão, Diana Karla Muniz Vasconcelos, é fundamental reavaliar os quadros nas primeiras seis horas. “Quando a medida é acionada, toda a equipe assistencial e de apoio deve estar atenta às suas funções, a fim de preservarmos a vida dos pacientes. No Protocolo Sepse, tempo é vida”.
Mais vidas salvas
O Hospital Geral Dr. Waldemar Alcântara (HGWA), situado no bairro Messejana, em Fortaleza, é o único equipamento estadual acompanhado pelo Ilas. Por meio do SCIH, são promovidas diversas ações durante o ano em prol da conscientização sobre o tema. Em 2022, houve um aumento de 100% na abertura antecipada de Protocolos Sepse na unidade.
Cristiane Araújo, enfermeira do SCIH, é a responsável por gerenciar a estratégia no hospital. A procura pelo Ilas, ela conta, mirou nas melhorias por meio de benchmarking, processo de estudo de concorrência. “Isso nos trouxe um ganho na análise dos nossos resultados. Essa sistematização contínua é muito importante, contribuindo para uma alta adesão ao pacote do Protocolo de Sepse e para um tratamento ainda mais eficaz”, diz.
Pronto Atendimento
Programa do SUS, o Projeto Sepse atua naqualificação das equipes de 95 Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) espalhadas pelo País, na implementação e na aplicação eficaz de protocolos. A iniciativa possibilita o reconhecimento da doença em tempo hábil e, consequentemente, o tratamento precoce.
Nas UPAs geridas pelo ISGH, o Protocolo Sepse já era aplicado em adultos. Neste ano, passou a ser adotado em crianças e adolescentes. “O nosso papel é salvar vidas e promover atendimento conforme os protocolos de segurança de cada paciente”, explica a diretora de Cuidado e Saúde dos equipamentos, Patrícia Santana.
Em 2022, as UPAs Praia do Futuro e José Walter foram premiadas pelo Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (Proadi-SUS), em parceria com o Hospital Sírio-Libanês e o Ministério da Saúde (MS).
As unidades se destacaram em indicadores como redução dos índices de mortalidade por sepse. “Conseguimos detectar precocemente e sinalizar os casos a partir da classificação de risco. O tempo é fator fundamental para que seja evitado um desfecho desfavorável ao paciente”, pontua a coordenadora de Serviços Assistenciais da estrutura da Praia do Futuro, Ismênia Marques.