Seguindo as campanhas conhecidas por colorir os meses do ano, estamos no dezembro verde. Esse mês a conscientização é sobre maus-tratos e abandono animal. ONGs, ativistas e apaixonados por animais lutam para que a justiça seja feita contra quem fere e abandona animais, além de pedirem por mais apoio do poder público na causa.
Pensando nisso, o Badalo conversou com quem entende do assunto: Fernanda Bastos, a voluntária por trás do UFCão, projeto que zela pelos 12 cachorros do campus da UFCA de Juazeiro do Norte e de mais 6 do campus do Crato.
Nascida em Fortaleza, Fernanda conta que sua inspiração para começar a cuidar de animais nasceu de ver o empenho de sua mãe e irmã, protetoras independentes. Elas resgatavam e tratavam dos animais e Fernanda se encantou pelo trabalho, mas nunca esteve a frente. Em 2016, quando chegou ao Cariri, mais especificamente no campus Juazeiro da UFCA, a situação mudou. “Percebi que os cães precisavam de mais atenção e mais cuidado do que estavam recebendo”, disse Fernanda.
Em 2016 o projeto UFCão já existia, mas faltava evoluir em alguns aspectos em prol do bem estar dos animais. Fernanda conta que não havia medicamentos para controle parasitário e nem vacinas, a alimentação dos cães também não era adequada. Além do cuidado com eles nos campus, em cerca de 7 anos já foram retirados de lá mais de 60 animais. Alguns deles ganharam novos lares, outros foram retirados por não apresentar bom convívio ou por estarem doentes e oferecerem riscos aos demais. Castrações também foram feitas, contribuindo no controle da população canina dos campus.
“Uma das maiores dificuldades enfrentadas é o fator financeiro, pois tudo que é feito necessita de dinheiro. Castração, compra de remédios e visitas ao veterinário tornam o fator financeiro um ponto delicado. O problema não é enfrentado só por mim, Fernanda, mas também por ONGs e outros protetores, outras associações. Não existe renda fixa, nem verba (…) como vivemos de doação, é sempre incerto o que podemos fazer para ajudar esses animais por conta dessa limitação financeira.”
Uma outra dificuldade apontada por Fernanda é a falta de conscientização das pessoas sobre os protetores de animais, assunto que é também constantemente debatido pela vereadora e ativista animal Jacqueline Gouveia. Quem faz o trabalho voluntário com animais, explicam ambas, não tem obrigação nenhuma em fazê-lo, mas sim as prefeituras e os órgãos estaduais, que são “altamente omissos” com a causa. “As pessoas veem o nosso trabalho e acham que a gente é quem tem que resolver as coisas. A gente é quem tem que retirar o cachorro que está na rua doente, ou o cachorro que está ali na porta incomodando” desabafou.
O tempo que leva para cuidar desses animais é considerável, Fernanda diz que o trabalho exige parar a sua vida pessoal para dar atenção a eles. Não há férias, folga ou fins de semana, eles têm vida e necessidades diárias como beber água e se alimentar. O trabalho é contínuo e ela sente que, por mais que se doe ao máximo, eles ainda recebem o mínimo por estarem em condições de rua, mesmo que castrados e vacinados. “A grande dificuldade é que não existe lar para todos”.
Saúde pública e educação
Fernanda acredita que, como o cuidado com os animais de rua é uma questão de saúde pública, devia ser debatido não só em campanhas voltadas aos adultos, mas no âmbito escolar, como forma de conscientização desde a infância. Usando o exemplo das campanhas de TV, as crianças podem chegar a assistir mas sem compreender do que se trata, pois não há explicação voltada a elas. Afirmando que o Cariri anda a passos lentos na luta pela causa animal, a voluntária fala da enorme carência de ações mais enfáticas por parte do poder público, reafirmando a necessidade de sensibilização sobre animais em situação de rua.
Dezembro verde no Cariri
Sobre a importância da campanha durante esse mês, Fernanda diz se tratar de uma oportunidade para que as pessoas se conscientizem, se sensibilizem e passem a colaborar na questão do combate aos maus-tratos animais e abandono. O Cariri ainda passa pela fase complicada da falta de compreensão e apoio na luta das causas animais. Apesar de ter muita gente ajudando, essas pessoas não tem a mínima assistência e mesmo assim são cobradas pela população. O trabalho continua sendo como “enxugar gelo”, ressalta, enquanto não existirem políticas públicas e educacionais, nem órgãos públicos que auxiliem diretamente na saúde animal. A omissão do poder público é nítida, a ajuda que se tem vem das ONGs e dos protetores animais, relata Fernanda.
“É uma luta difícil, árdua, pois não só o financeiro é afetado, o psicológico e emocional também ficam comprometidos ao se doar a essa causa, mas ao mesmo tempo é muito gratificante ver um animal bem, saudável. Essa é a nossa gratificação.”
Jacqueline Gouveia, anteriormente citada, desabafou sobre o descaso da prefeitura com os equipamentos e verbas conseguidos para a causa animal. O castramóvel estaria enferrujando sem ser utilizado. A reportagem pode ser lida clicando aqui.
Como ajudar o UFCão:
A conta bancária e o pix estão disponíveis na página no Instagram @doguineos_ufcao, que também é usado para comunicação e divulgação (além da postagem de fotos fofas dos doguinhos). São aceitas doações de ração, material de higiene e medicamentos para os cães. Além disso, itens com condição de venda como roupas e livros também podem ser doados para a ação mensal, o Bazar UFCão.