Uma pesquisa intitulada Global Consumer Insights Pulse publicada em junho do ano passado pela PwC (PricewaterhouseCoopers), revela que a pandemia pode ter ajudado a abrir os olhos das pessoas para vários aspectos do processo industrial, o que se traduz em uma mudança nos hábitos de consumo. O estudo revela, inclusive, que essas alterações vieram para ficar. Segundo os dados divulgados, 57% dos brasileiros passaram a optar por consumir intencionalmente itens com embalagens ecológicas ou menos embalagens. Além disso, 58% preferem escolher produtos com origem rastreável e transparente.
Outra questão levantada, é sobre o comportamento de consumo em cada geração. Os dados mostram que o aumento é maior entre as gerações mais antigas. Entender o perfil de consumo de cada geração, é um desafio para os estudantes e profissionais da área de marketing. O comportamento das pessoas está diretamente ligado com o contexto social, cultural e histórico que compõem os seus intelectos. Os resultados do levantamento expressam, ainda, que 38% da Geração Baby Boomers e 44% dos consumidores da Geração Tradicional se dizem dispostos a pagar mais por produtos produzidos de forma ética e sustentável, em comparação com 33% dos consumidores da Geração Z. Além disso, a geração X, que também se mostra propensa a aderir essas mudanças, atualmente está no auge de seu potencial de ganhos. Isso ajuda a explicar por que o preço pode se tornar uma prioridade menor com a idade. Sob tal ótica, a mudança das gerações impacta diretamente sobre o posicionamento de compra.
Entretanto, as pautas relacionadas à ESG estão se tornando cada vez mais frequentes de modo geral. É o que mostra o Levantamento Macrotendências até 2040, pesquisa desenvolvida pela Fiesp e pelo Ciesp em julho de 2020. Nela, 61% dos consumidores de 20 países declararam que começaram a optar por produtos mais sustentáveis. Destes, 89% pretendem manter o hábito no pós-pandemia. Além disso, 66% dos entrevistados acreditam que a Covid-19 reforça a necessidade das empresas adotarem soluções sustentáveis, e 64% esperam que as companhias ofereçam produtos ou serviços que tenham impacto positivo para a sociedade e o planeta. Até mesmo os mais jovens estão se atentando para as questões ambientais e climáticas, procurando soluções mais sustentáveis.
Esse é o caso da Valeska Silva de 20 anos, que afirma ter sofrido uma grande mudança nos hábitos de consumo “eu sempre estive preocupada com a questão climática e com os animais, eu sempre tentei economizar os recursos e usar embalagens de impacto menor. Porém, foi apenas esse ano, quando decidi me tornar vegetariana, em processo para o veganismo, que eu realmente senti que estou contribuindo para tornar o mundo um lugar melhor. Comecei a repensar todos os produtos que eu consumo e também a procurar novos produtos de novas empresas, optar por consumir de pequenos empreendedores locais e evitar marcas específicas justamente pela falta de responsabilidade social e ambiental”. Destacou. O agronegócio tem sido apontado como responsável por diversos impactos negativos nos últimos tempos, como, por exemplo, o alto consumo de água, de terra para criação e plantação de soja e outros grãos para alimentar os animais que serão mortos para consumo humano, etc. A Organização das Nações Unidas (ONU) prevê que a população mundial chegará a 9,7 bilhões até 2050 o que exigiria aumentar a produção de agropecuária em cerca de 50% para tornar acessível o consumo, o que poderia causar danos irreparáveis ao planeta. Por esses e outros fatores, como a questão da saúde, muitas pessoas, como Valeska, se tornaram vegetarianas nos últimos tempos.
Nos últimos anos, o aumento das inundações e do nível do mar, escassez de água potável, aumento de queimadas, são alguns dos problemas que podem estar ligados ao trato com o meio ambiente. Segundo dados do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), no Brasil, só em 2020, a emissão de GEEs (Gases de efeito estufa) cresceram 9,5%, enquanto no resto do mundo, desceram em quase 7%, deixando o Brasil em desvantagem em relação ao acordo de Paris. A gestão atual, pode ter contribuído para este cenário. O presidente Jair Bolsonaro (PL) já definiu, algumas vezes, as ações de fiscais ambientais como “Indústria da Multa”. Durante a campanha presidencial em 2018, o mandatário prometeu acabar com as multas ambientais do Ibama e disse inclusive, que no que depender dele “Não tem mais demarcação de terra indígena”. Isso contribui consequentemente para o aumento das queimadas ilegais, já que desfavorece a fiscalização.
Tendo em vista a preocupação crescente dos clientes, muitas empresas estão comprometidas em diminuir gradativamente seus impactos. A C & A, empresa do setor de vestuário, vem reunindo desde 2015, todas as localidades em que atua, para estudar mudanças benéficas, como investir no algodão sustentável do tipo Better Cotton (BCI), algodão orgânico ou o reciclado, tendo em vista que em média 60% das peças produzidas pelo grupo, são de algodão. Já a Natura, gigante dos cosméticos, trabalha em conjunto com povos de comunidades, ajudando a gerar renda e usando recursos de forma moderada. Além disso, muitas empresas surgiram recentemente, com foco total em sustentabilidade e em causas sociais. Um exemplo disso é a Pantys, que apesar de ser pioneira no ramo, está no mercado há apenas sete anos. É a primeira marca de calcinhas absorventes reutilizáveis, e além de influenciar diversas mulheres a lidar com a menstruação de um jeito leve e diminuir seu impacto, também está envolvida em diversas atividades socioambientais visando agregar valor.